A alegria deu o tom na Sessão Solene para a outorga do Diploma de Honra ao Mérito a Osvaldo da Silva, o carnavalesco Bogé, na sexta-feira (22), no Plenário da Câmara Municipal. Figura tradicional da cultura popular e do Carnaval de rua de Araraquara, Bogé e sua esposa, Dona Ivone, foram os criadores da escola de samba “Estrela de Vila Santana”.
O autor da indicação da homenagem foi o vereador Edson Hel (PPS) que, visivelmente emocionado, lembrou sua infância e adolescência, quando chegava a pular os muros dos clubes para participar da folia. “Não tive a felicidade de ter contato com o Sr. Bogé durante a juventude, quando acompanhava os desfiles de ruas. Nunca tive a habilidade da dança, mas sempre adorei a música e o samba, por isso é uma honra para mim oferecer-lhe este título, e agradeço de coração por ele ter aceitado”, disse o parlamentar. Ele quebrou o protocolo para chamar à Tribuna o amigo Cristiano de Oliveira, que o inspirou a prestar a homenagem. “Era um sonho antigo poder homenagear o Sr. Bogé, uma pessoa que tira as crianças da rua para ensiná-las a tocar instrumentos e que tem um carinho imenso pela sua família. A gente tem de homenagear em vida pessoas como ele, que fazem tanto pela cultura e pela cidade”, acrescentou Oliveira.
O presidente da Câmara Municipal, Tenente Santana (MDB), contou que passou o Carnaval deste ano na cidade de Guarujá (SP). “O que fez sucesso lá foram os sambas de rua, grupos cantando e dançando nas ruas e portas de bares, e isso me deu a esperança de estarmos voltando aos bons tempos, deixando de lado as músicas importadas e restabelecendo o samba ao lugar de onde nunca deveria ter saído. É no samba que todos param para brincar, conversar e festejar. O samba transmite alegria, união, sentimento de unidade entre pessoas que nunca se viram. Além disso, por meio do samba, o Sr. Bogé ajudou muitos jovens e adolescentes a trilharem um bom caminho. Os munícipes da nossa cidade devem muito a ele e esta homenagem é mais do que justa.”
Nas palavras do prefeito Edinho Silva (PT), “por mais que Araraquara reconheça tudo o que Bogé fez por esta cidade, talvez ainda seja pouco. Quem conhece um pouco da cultura de Araraquara sabe a sua importância, o quanto ele deu visibilidade à cultura do povo afro-brasileiro, ao samba, ao Carnaval, o quanto ele valorizou a manifestação cultural daqueles que muitas vezes não são reconhecidos e não têm o espaço que deveriam ter. Ele escreveu e continua escrevendo a nossa história”.
O conselheiro do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo Dimas Ramalho agradeceu o homenageado pelo apoio que recebeu dele e de sua família no início de sua carreira política. “Eu não podia deixar de vir aqui hoje porque aprendi com meu pai, quando era garoto, que você tem de ser grato às pessoas e reconhecer o valor delas enquanto podem ouvir você falar. Temos de dizer para pessoas como o Sr. Bogé e sua família que elas são importantes para nós, para nossa cidade e para a nossa cultura. A gratidão é a memória do coração.”
A secretária de Cultura, Teresa Cristina Telarolli, apontou “a oportunidade de reverenciar a trajetória de Bogé com ele aqui, saudável, sentado com a gente. É um momento de celebração, importante para o registro da história de Araraquara. Aqueles que têm a vida economicamente estruturada em grandes patamares sempre escreveram a história no Brasil. Agora, aqueles de origem mais popular, que se fizeram a partir do trabalho, como Bogé e nós, que estamos aqui, não têm registrada a sua história senão por iniciativas como essas. Bogé já está tatuado na memória do samba e na memória cultural de Araraquara, e só temos a agradecer pela iniciativa maravilhosa do vereador Edson Hel”.
Após receber a honraria, Bogé brincou dizendo que não sabia falar, por isso seria direto, e agradeceu a presença de todos, ganhando aplausos do Plenário lotado de familiares, amigos e admiradores.
Entre os presentes na Sessão Solene estavam a presidente do Conselho Municipal de Combate à Discriminação e ao Racismo (Comcedir), Rita de Cássia Ferreira, o coordenador de Participação Popular, Alcindo Sabino, e o gerente regional da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo (CDHU), Benedito dos Santos.
O homenageado
Osvaldo da Silva, o Bogé, é um dos nomes mais tradicionais da história do Carnaval araraquarense. Ele nasceu em Araraquara, em 1932. Durante toda a vida, Bogé foi pedreiro de profissão e sambista de coração. Seu envolvimento com essa arte se deu quando formou e integrou o Trio Sumaré, com Chico e Titico, ainda na década de 1960, quando tocavam as marchas, sambas e todos os estilos musicais da época. Com o trio, formaram um bloco carnavalesco para desfilar, o que foi ganhando uma proporção tão grande que se transformou na escola de samba “Unidos do Carmo”, que ficou ativa por três anos. Na década de 1950, Bogé construiu uma casa na esquina da Rua Castro Alves com a Avenida Bandeirantes, na Vila Santana. Em 1969, fundou a escola de samba “Estrela de Vila Santana” que, ao longo de sua história, tiraria muitos meninos da rua e se tornaria um grande orgulho para a comunidade. Com pouca ajuda, Bogé tinha de buscar alternativas para comprar os instrumentos, confeccionar as fantasias e tudo o mais, motivado, segundo ele, pelo amor ao samba que está em seu sangue. A esposa, Ivone, e os filhos, Carlos, Valquíria, Marli e Cláudia, sempre o apoiaram e acompanharam na missão de manter viva a chama do samba. A escola desfilou por mais de meio século e Bogé, ultrapassando todos os obstáculos, solidificou sua história. Mas, em 2012, problemas de saúde e dificuldades de locomoção o fizeram arriar o estandarte. Foi quando informou as autoridades municipais, por ofício, de que não havia quem tocasse em frente o seu trabalho e que a escola de samba do coração não desfilaria mais sob a batuta do mestre.
Fotos disponíveis aqui.
Publicado em: 23/07/2019 14:07:21