Uma lei para dar nome a uma unidade de saúde pode parecer sem importância em um primeiro momento. Porém, muitas vezes, é o caminho para garantir representatividade e reconhecimento a grupos historicamente excluídos. Foi com esse objetivo que a vereadora Thainara Faria (PT) propôs a Lei nº 9.510, que denomina “Nair Damásio Claudino”, a Unidade Básica de Saúde (UBS), localizada no bairro Victório de Santi. Na tarde da quarta-feira (10), a regulamentação foi sancionada pelo prefeito Edinho Silva (PT), em solenidade realizada na sede do Executivo municipal. Na ocasião, filhos, sobrinhos, netas e bisnetas e admiradores da história de Nair aguardavam ansiosamente a oficialização do registro da primeira mulher negra a levar o nome de uma unidade de saúde na cidade. Para o filho da homenageada Cláudio Claudino, a lei é uma quebra de paradigmas. “Quando fiz faculdade de direito, nunca conheci um juiz ou promotor negro. E isso diz muito.”

 

Representatividade

Dizer sobre o espaço que os negros ocupam na sociedade é também falar sobre as questões estruturais que definem esse espaço, como, por exemplo, o racismo. Para a filósofa Djamila Ribeiro, no Brasil, é comum a desumanização da mulheres negras. “Falar em termos de representação no Brasil, a gente sabe que historicamente as mulheres negras não têm a humanidade reconhecida. A mulata, quente, boa de cama, a submissa. Elas existem e muitas vezes a gente não sabe onde elas estão porque temos um sistema editorial racista, excludente e que impede que elas cheguem até nós.” Claudino ainda parabenizou Thainara por ser a primeira mulher negra a ocupar o posto de vereadora na Câmara Municipal de Araraquara. “Fico muito feliz em saber que você nos representa. Você, assim como minha mãe, luta pelos negros e negras de Araraquara.”

 

Admiração e respeito

Para a parlamentar, a militância construída por Nair precisa ser registrada na memória dos araraquarenses. “Quando a Marcinha [Márcia Cristina Alves, da Coordenadoria dos Assuntos da População Negra] me contou do trabalho da Nair com a população negra, sabia que era o seu nome que deveria estar ali. Uma mulher à frente do seu tempo que teve papel importante e fundamental para a educação e emancipação de mulheres negras na cidade.” Nascida em Araraquara em 10 de janeiro de 1923, a homenageada coordenou, na década de 1970, um movimento na Casa Paroquial de São Benedito, na Vila Xavier, que consistia em aulas aos domingos e feriados voltadas à alfabetização das empregadas domésticas, e ao ensino de corte e costura, crochê, bordados e artesanatos. Foi desenvolvida uma campanha de confecção e vendas de panos de copa, colchas de retalhos e artesanatos diversos cuja renda foi integralmente destinada à ampliação de uma ala no hospital Beneficência Portuguesa de Araraquara.

 

UBS Victório de Santi

O prefeito ainda relembrou a importância da construção na UBS. “O Victório de Santi é um bairro da década de 80 e até hoje não tinha um posto de saúde. Tanto a inauguração da UBS como a escolha do nome mostram que estamos construindo uma cidade mais justa para Araraquara”, finalizou. Escolhida pela população durante o Orçamento Participativo (OP) de 2018, a unidade tornou-se realidade após emenda parlamentar no valor de R$ 569 mil conquistada por Thainara junto com o deputado federal Carlos Zarattini (PT). Com o dinheiro enviado para a cidade, além desta unidade, outros 27 postos já receberam melhorias. A UBS Victório de Santi ainda será capaz de abrigar estudantes de medicina participantes do Programa Saúde da Família. A vereadora esteve no espaço em fevereiro para conferir o andamento das obras. Localizado na Rua Francisco de Paula Lombardi, nº 214, o prédio, com 214 m² de área edificada, já está em fase final de construção e deverá ser entregue em breve.

 

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