Com mais de dois mil casos registrados, a epidemia de dengue na cidade de Araraquara foi o principal foco da Audiência Pública sobre a Saúde do município convocada pelo vereador Lucas Grecco (PSB) na noite da quinta-feira (28), no Plenário da Câmara Municipal.
“Os assuntos discutidos envolvem vidas, famílias. No caso da atual epidemia de dengue, já temos três mortes e outras quatro suspeitas. O que foi feito e o que poderá ser feito daqui para a frente? E a disponibilidade de leitos? Nosso único hospital que atende SUS é a Santa Casa”, argumentou o parlamentar. A secretária municipal da Saúde, Eliana Honain, destacou as principais ações que a Prefeitura tem realizado, entre elas a viatura que passará o “fumacê”. “Entendo que compromete o meio ambiente, afetando outros insetos, como as abelhas, mas vimos que a nebulização é necessária. Não tínhamos esse equipamento e fizemos a aquisição. Começaremos pela Vila Xavier, onde registramos o maior número de casos. A aplicação tem horário específico, no final da tarde e, se chover, não pode fazer. A nebulização não pode ser rotina, estamos abrindo uma exceção para tentar conter esse surto.”
Lixo em terrenos, casas abandonadas
“Nossa equipe é apenas para remover os criadouros, os focos, como foi feito no Tropical Shopping. Fazemos os arrastões, tiramos o lixo e quando voltamos na semana seguinte vemos que a situação volta a ocorrer”, apontou Eliana, afirmando que “a situação é preocupante, mas o número de casos tem se mantido, não está aumentando. Temos que rever todo o processo de trabalho quanto ao combate da dengue. Mosquito se reproduz com muita facilidade e causa grandes transtornos”.
A secretária explicou que o principal trabalho é a remoção dos criadouros, “mas teremos que trabalhar arduamente o ano todo. Precisamos parar a transmissão para não corrermos risco de outra epidemia”, analisou. Para o diretor do Departamento Regional de Saúde de Araraquara (DRS III), Antonio Martins de Oliveira, houve uma antecipação do ciclo da epidemia. “O Aedes foi se adaptando muito bem ao meio urbano e vai nos acompanhar por muito tempo. Segundo um estudo da Unesp, ele consegue transmitir mais de 30 doenças. Precisamos de ações ao longo do ano. É um trabalho permanente que envolve toda a sociedade. É uma obrigação do cidadão em seu domicílio, dos comerciantes em seus estabelecimentos. É um trabalho de todos”, entende. O promotor público Dr. Álvaro da Cruz Júnior foi direto ao ponto. “Precisamos descobrir o que está errado. É preocupante a situação no município e ela está sendo acompanhada com inquérito civil. Precisa haver um empenho de todos os funcionários das secretarias. Por que preciso contratar mais 500 pessoas para isso? 421 imóveis visitados e 570 fechados? Os números não batem”, pontuou. “A prevenção tem que ocorrer o ano todo, todos os anos, e nos anos de eleição também, e com energia. Se o morador não aprende, ele tem que ser notificado, punido, que é a única forma que vai resolver. A saúde não pode ser politizada, tem que ser levada a sério”, completou. Eliana esclareceu que “precisamos de pessoas capacitadas. Temos que formar profissionais com o perfil do SUS, que tenham compromisso e que compreendam seu papel na Saúde. Esse é o nosso grande desafio”.
Faltam leitos
Sobre os leitos hospitalares, Eliana informou que, na Santa Casa, são 174, sendo 138 destinados a pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS). “O hospital é referência para 18 munícipios, e seis dependem exclusivamente dele para todo tipo de internação. Faltam leitos em Araraquara. Para a UTI, são apenas 14 leitos SUS.” A secretária detalhou que os principais perfis são idosos e acidentados (trânsito, brigas, violência).
“Precisamos equacionar esse problema com a falta de leitos. Já está sendo feito um estudo para isso”, disse o diretor do DRS III. O promotor foi mais incisivo. “Por que não compramos mais leitos? Vamos gastar mais de R$ 3 milhões no PS do Melhado.” Grecco avaliou de forma positiva a discussão. “Tínhamos muitos questionamentos quanto à saúde pública no município e Eliana apresentou diversas explicações de forma transparente e bem esclarecidas. Essa Audiência dirimiu muitas dúvidas.” Também participaram da Audiência os vereadores Edio Lopes (PT), Jéferson Yashuda (PSDB) e Paulo Landim (PT), e o gerente do Centro Especializado em Reabilitação (CER) “Doutor Eduardo Lauand”, Luiz Armando Garlippe.
Publicado em: 01/03/2019 15:50:04