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A quarta edição da campanha “Luto Contra as Violências” foi lançada oficialmente em Audiência Pública realizada pela Câmara Municipal na noite de segunda-feira (25), Dia Internacional para a Eliminação da Violência Contra as Mulheres.
Organizado pela vereadora Fabi Virgílio (PT), o evento também fez um balanço das políticas públicas para as mulheres em Araraquara.
A “Luto Contra as Violências” foi criada na cidade em 2021. No ano passado, a campanha passou a fazer parte do Calendário Oficial de Eventos do Município por meio da Lei nº 11.002/2023, de autoria de Fabi Virgílio.
Inspirada na “En Negro Contra as Violencias”, que acontece desde 2015 em Santiago de Compostela, na Espanha, a campanha procura envolver os setores econômicos, associativos, educacionais, esportivos, sociais e culturais, bem como todos os habitantes de Araraquara, em uma resposta coletiva para rejeitar as violências contra as mulheres.
“É um prazer imenso estar aqui, neste quarto ano consecutivo, trazendo esta atividade que tanto nos chama à reflexão, mas também nos fortalece. Eu fico muito grata e feliz por todo esse movimento que a gente tem sequenciado na nossa cidade”, disse Fabi na abertura do evento.
A psicanalista Maria Teresa Manfredo, idealizadora da campanha em Araraquara, afirmou que os dados mostram aumento da violência. “A gente não pode se calar. Quem não apoia esse tipo de ação está sendo cúmplice. É um tema muito sério. A gente não pode fingir que não está acontecendo”, relatou.
O manifesto da campanha foi lido na audiência. O documento aponta que, de acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, cresceram as violências contra mulheres e meninas: são 1.467 vítimas de feminicídio, um aumento de 0,8% em relação ao ano anterior — média de quatro mulheres por dia.
Além disso, uma menina ou mulher foi estuprada a cada seis minutos. “Eu me lembro de que, em 2022, esse dado relativo aos estupros era a cada dez minutos. No ano passado era a cada oito minutos. E, neste ano, é a cada seis minutos. Eu espero que no ano que vem a gente não esteja aqui, vergonhosamente, falando que é a cada quatro minutos”, disse Maria Teresa.
Atendimentos
Na sequência da audiência, a gerente do Centro de Referência da Mulher (CRM) “Heleieth Saffioti”, Laís de Conti, apresentou os serviços que são oferecidos para a proteção e o atendimento das mulheres em Araraquara.
“A gente atua como um órgão articulador com a rede. Nós recebemos, fazemos os acolhimentos e os encaminhamentos das mulheres que sofrem ou que sofreram violência doméstica. Nós temos o atendimento psicológico, que é semanal e gratuito. A gente tem que entender que cada mulher tem o seu tempo. Às vezes, identificar a violência e conseguir sair dela é um processo muito difícil”, explicou.
O CRM faz o acompanhamento até a Delegacia de Defesa da Mulher para que seja registrado o boletim de ocorrência. Caso tenha alguma agressão física, a vítima também é acompanhada até o Instituto Médico Legal (IML).
A gerente ainda informou que existe um plantão com atendimento 24 horas por dia. Também há comunicação direta com o Fórum Municipal para que a equipe do CRM entre em contato com mulheres que receberam medida protetiva.
“E nós temos uma Casa Abrigo sigilosa, onde as mulheres que estão em situação de risco de morte ficam abrigadas até que saia a medida protetiva. Quando elas são mães, as crianças e adolescentes até 17 anos são acolhidas junto com elas”, relatou Laís. Além desse local, também há a Casa das Margaridas, que acolhe mulheres em situação de desabrigo e sem vínculo algum familiar.
Neste ano, o CRM realizou 1.457 atendimentos psicológicos. De janeiro até novembro, a equipe conseguiu atender 231 mulheres que receberam medidas protetivas. Houve 96 agendamentos de atendimentos de mulheres com defensores públicos. E 14 mulheres e 11 crianças receberam abrigo durante o ano.
Continuidade
A deputada estadual Márcia Lia (PT) relembrou o início da luta pelas políticas para mulheres em Araraquara (entre as décadas de 1990 e 2000) e falou da necessidade de manutenção dos serviços oferecidos atualmente pelo Município.
“Não aceitaremos retrocessos. A gente não caminha para trás. A gente caminha para frente. A gente faz política olhando para frente. E a luta das mulheres em Araraquara não pode retroceder”, enfatizou a deputada.
Como encaminhamento da audiência, ficou definida a reativação de uma Comissão Especial de Estudos em defesa dos direitos das mulheres e das meninas — a última frente parlamentar com esse tema teve seu relatório final aprovado em julho.
O evento foi o quarto organizado por Fabi Virgílio para debater políticas públicas desenvolvidas pela Prefeitura — as outras audiências foram sobre o setor cultural, o meio ambiente e as pessoas com deficiência.
O debate foi transmitido ao vivo pela TV Câmara e ainda pode ser assistido na íntegra pelo Facebook e pelo YouTube.
Também estiveram presentes na Audiência Pública a comandante da Guarda Civil Municipal, Juliana Zaccaro, a ex-coordenadora executiva de Políticas para Mulheres Grasiela Lima, as Promotoras Legais Populares (PLPs) e o Grupo Mulheres do Brasil - Núcleo Araraquara.
Exposição
Antes da audiência, foi aberta a exposição fotográfica "Flor Mulher: A Força do Reolhar", de autoria de Carol Barra. A mostra celebra a trajetória de mulheres que encontraram forças para recomeçar em meio às adversidades.
“Essas mulheres aqui retratadas nesta exposição reolharam suas vidas, suas histórias. Histórias atravessadas por violências nas suas mais diversas formas. Histórias ligadas e entrelaçadas por recomeços. Histórias de terra seca e histórias de florescer. Deixo a você, mulher, uma lembrança esquecida pela força da desesperança: você não está sozinha, não é culpada e merece ser livre. Às demais pessoas: que possamos ser amparo, apoio e companhia na luta”, disse Carol.
A exposição fica aberta no saguão da Câmara (Rua São Bento, nº 887, Centro) até o dia 23 de dezembro, de segunda a sexta-feira, das 9h às 18h.
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