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A necessidade de estimular a agroecologia e a produção de alimentos orgânicos no município foi abordada em Audiência Pública realizada pela Câmara Municipal de Araraquara na noite da quarta-feira (26). Requerida e presidida pela vereadora Fabi Virgílio (PT), a audiência teve presenças de professores universitários, pesquisadores e representantes da Prefeitura e de instituições ligadas ao tema.
A agroecologia consiste em um sistema de produção de alimentos mais sustentável, o que contribui para a melhoria da segurança alimentar e o fortalecimento da agricultura familiar, além de trazer benefícios ao meio ambiente e ao controle das mudanças climáticas.
Fabi destacou que a produção e o consumo de alimentos orgânicos e saudáveis deve ser incentivada. “Em 2022, nós tivemos 652 agrotóxicos novos liberados no país. Foi um aumento de mais de 190% em relação à ultima década. Estamos falando de muito veneno indo para as nossas mesas. Isso é uma das questões mais emblemáticas que a gente tem que trabalhar nesta década”, disse.
A parlamentar ressaltou que a Audiência Pública foi o primeiro passo de uma discussão que será feita. “Queremos sequenciar isso em uma pauta muito profunda junto ao Executivo para concebermos essa transição agroecológica sustentável no nosso município, para que as pessoas tenham soberania alimentar garantida e a gente tenha um meio ambiente equilibrado”, destacou.
Impacto social
O professor Henrique Carmona, pesquisador em Agroecologia, Desenvolvimento Rural e Sociedade da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Territorial e Meio Ambiente da Universidade de Araraquara (Uniara), afirmou que a agroecologia pode ser definida como uma prática agrícola, como ciência e como movimento social.
“Um dos objetivos dessa política é aumentar a produção e o consumo de alimentos orgânicos. Quando o município topa trazer essa discussão para suas estruturas governamentais, fica mais fácil fazer parcerias e convênios”, declarou. Henrique deu exemplos locais de iniciativas de destaque, como o Programa Municipal de Agricultura de Interesse Social (PMAIS) e a inauguração do primeiro entreposto de ovos caipiras em assentamentos em todo o estado, no Assentamento Monte Alegre.
O professor José Maria Guzmán Ferraz apresentou informações sobre o uso de agrotóxicos no Brasil e afirmou que “estamos tomando muito mais veneno que o europeu”. Para ele, além de fortalecer a agricultura familiar e conservar o meio ambiente, a agroecologia é questão de saúde pública.
“Se a gente for ver os agrotóxicos que estão por aí, todo mundo é afetado. Não é só o trabalhador, só o pessoal que está no campo. Isso vem para a cidade, para a água, para a nossa comida”, disse Ferraz, que é pós-doutorado em Agroecologia pela Universidade de Córdoba (Espanha), pesquisador do Laboratório de Engenharia Ecológica da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e professor da Uniara.
Por videoconferência, a diretora do Departamento de Inovação para a Produção Familiar e Transição Agroecológica da Secretaria de Agricultura Familiar e Agroecologia, Vivian Libório de Almeida, representando o Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA), também participou da audiência. “Araraquara tem muito a contribuir com o ministério de uma maneira consolidada e próxima”, afirmou. Vivian apresentou detalhes sobre os programas nacionais em torno dessa área.
A coordenadora municipal de Agricultura, Enedina Andrade, destacou que a agroecologia vai além da alimentação. “A gente fala em agroecologia e pensa em comida sustentável e saudável. Mas não é só isso. É uma concepção de vida. Uma concepção ideológica de estar no mundo. Se a gente entende o que é agroecologia, a gente muda as relações da sociedade”, afirmou.
Enedina ainda avaliou que a elaboração de uma política municipal em torno do tema passa por um debate mais aprofundado sobre a relação com o agronegócio. “Para pensar em produção em grande escala de agroecologia e produção orgânica, vamos ter que enfrentar alguns paradigmas, como a questão da agricultura familiar versus a produção do agronegócio. Isso precisa de um trabalho rigoroso, científico, metodológico, mas a gente também precisa ganhar as mentes e corações dos agricultores. Esse diálogo está aberto e precisaremos fazer”, declarou.
A audiência também teve presenças de Carlos César Silva, representando o Fundação Instituto de Terras do Estado de São Paulo (Itesp); André Luiz Monteiro Novo, representando a Embrapa Pecuária Sudeste; Claudinei Saldanha Júnior, da Associação Brasileira dos Produtores de Leite (Abraleite); e Izabela Maria Baitelo, representando o Sebrae Araraquara.
O evento foi transmitido ao vivo pela TV Câmara e continua disponível para ser assistido pelo YouTube e pelo Facebook.
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