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Não encontrar assentos adequados nos meios de transporte. Não usar uma peça de roupa para evitar olhares de chacota. Ser recusado para uma vaga de emprego por causa da aparência física e tratado com descaso no sistema de saúde. Situações como essas, que denotam preconceito e desrespeito para com o próximo, são corriqueiras para pessoas gordas, que enfrentam diariamente a gordofobia – uma forma de preconceito que se manifesta em atitudes, falas, representações negativas e barreiras para a inclusão de pessoas por causa do seu peso.
Discussões sobre gordofobia têm ganhado destaque nos meios de comunicação e protagonismo também dentro do Legislativo, que aprovou, em março, a Lei nº 10.733, que instituiu a Semana Municipal de Combate à Gordofobia.
O autor do projeto de lei é o presidente da Câmara Municipal, vereador Paulo Landim (PT), que fez parte da mesa de discussões do encontro “Combate à Gordofobia”, realizado na quarta-feira (13) na Faculdade de Ciências e Letras de Araraquara (FCLAr) da Universidade Estadual Paulista (Unesp). O debate integrou o programa “Diálogos sobre direitos humanos”, promovido pela universidade. A Casa de Leis foi parceira da universidade e da Prefeitura na realização do evento.
“Na Câmara, estão os representantes da população, logo a sua participação nessa discussão é muito importante, porque demonstra um compromisso com a igualdade e com a cidadania”, declarou o presidente, completando: “Quando elaboramos a lei, nossa intenção foi criar um espaço de conscientização e diálogo sobre o que é esse preconceito. Vimos a oportunidade de educar a comunidade sobre o assunto e suas consequências”.
Na abertura do evento, o diretor da FLCAr e presidente da Comissão Local de Direitos Humanos, Jean Cristtus Portela, disse que “é essencial que nós, na universidade, levemos muito a sério esse debate, pois trata-se de uma questão de acessibilidade”. Revelando que já teve 40 kg a mais, ressalvou: “Que fique perfeitamente claro que emagreci por questões de saúde que nada tiveram a ver com o meu peso”, e acrescentou: “Venho de uma família de mulheres gordas e empoderadas, minha mãe é uma mulher muito ativa e nos ensinou o respeito desde crianças”. Portela percebeu uma mudança de atitude de muitas pessoas depois que emagreceu. “Começaram a me dizer: ‘Como você está bem’ e passaram a me tratar melhor. Para mim, foi curioso ver que uma pessoa gorda era vista daquela maneira. Foi também um processo doloroso, que representou o início do meu letramento para enfrentar esse problema de direitos humanos. Que a universidade seja o espaço da diversidade de corpos e mentes”, concluiu.
O educador físico e doutor em Ciências da Motricidade pela Unesp, Rodrigo Ferro Magosso, foi o idealizador da semana de discussões sobre a gordofobia. “Procurei o gabinete do vereador Paulo Landim com a proposta de colaborar na criação de uma semana de debates, e a ideia foi tão bem recebida que ele abraçou a causa e acabou virando lei”, contou. Magosso, que realiza um trabalho de conscientização sobre a gordofobia há sete anos, busca uma abordagem diferente do senso comum nas avaliações físicas de seus alunos, com foco no bem-estar e na saúde, e não no peso. Ele explicou o chamado “viés do peso”: “É um conjunto de associações erradas que levam uma pessoa a pensar que o excesso de peso é um conjunto de más escolhas, e não é”. De acordo com o profissional, até mesmo termos como “acima do peso” e “excesso de peso” são questionáveis, porque partem do princípio de que existe um peso ideal, o que também é muito relativo.
Representando o coletivo Araraquara Plus, a profissional de comunicação Delmaria Aparecida de Freitas compartilhou sua história marcada por gordofobia e superação: “Fui uma adolescente gorda e sofria gordofobia dentro de casa. Fui criada para me odiar, mas não concordei e decidi que eu merecia mais. É um exercício diário de dizer: ‘Eu me respeito, eu mereço mais’”. Atualmente, com um grupo de sete mulheres, ela cria conteúdo nas redes sociais para pessoas gordas. “É um espaço para trazer acessibilidade, lugar de direitos e lugar de fala.”
Delmaria falou sobre a pressão que as mulheres sofrem em relação ao peso: “A cobrança em cima das mulheres é muito grande. Você tem que caber no P, ter cintura 45, pé de princesa. As pessoas não estão acostumadas a ouvir: ‘Eu sou gorda e está tudo bem’. Quando eu era criança, nunca vi uma moça gorda na televisão para me representar. Não tive em quem me espelhar, tive que ser. Sou de uma família de mulheres gordas. Hoje tenho uma sobrinha de um ano de idade. Ela já é toda plus size, linda, cheia de dobrinhas. Ela não vai ser uma criança magra. Quero dar a ela um pouco de representatividade, quero mostrar que ela não tem que se esconder, nem se anular, para ser alguma coisa que ela não é, porque que tem uma tia que mostrou para o mundo que ela não cabe em caixa nem em rótulo, que ela pode quebrar tudo isso e ser o que ela é.”
O encontro está disponível no canal da tvfclar no YouTube.
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