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A Comissão Especial de Inquérito (CEI) da Câmara Municipal de Araraquara que apura, desde setembro, indícios de um suposto esquema de cobranças de propina para a concessão de áreas e aprovação de projetos na Prefeitura sob influência do ex-vereador Ronaldo Napeloso, teve avanços durante os depoimentos desta segunda-feira. Um empresário afirmou ter sido coagido pelo ex-coordenador de Desenvolvimento Urbano, Ademir Palhares, o Mimi, a pagar R$ 15 mil para elaborar e aprovar o projeto de construção no terreno de 2.669 metros quadrados que fora doado para sua empresa.
Leônidas do Nascimento Costa, dono da Léo Fibras, contou que, em 2008, buscou por conta própria e recebeu a doação de uma área no Distrito Industrial e ali construiu a sua empresa com barracão, vestiário e refeitório. Mas uma área ao lado foi retomada pela Prefeitura e pensando em ampliar os negócios procurou o ex-vereador Ronaldo Napeloso para o ajudar na negociação. A liberação foi dada em 2010. O empresário, então, orientado pelo ex-assessor do vereador Helio Azevedo, foi procurar por Ademir Palhares. Hélio e Ademir foram presos junto com Napeloso na operação da Polícia Federal e Ministério Público no dia 6 de agosto. Em depoimento dado à CEI, o empresário conta que a reunião, em novembro do ano passado, foi dentro da Prefeitura e no horário do expediente. Ademir Palhares, por sua vez, de acordo com o dono da Léo Fibras, cobrou R$ 15 mil e teria deixado claro que ‘ele mandava ali’. Para o empresário, essa foi uma forma de coagi-lo. “Eu não aceitei porque achei caro. Fui procurar um outro engenheiro e fiz o mesmo projeto por R$ 2 mil”, conta Costa que, desde então, não viu avanços em seu projeto. Para ele, ao se negar a pagar, teve seu projeto engavetado. Agora, depois da prisão do ex-coordenador, na sua opinião, o processo voltou a seguir seu trâmite normal. Ainda em seu depoimento, o empresário negou ter sido pressionado pelo ex-vereador para dar dinheiro, mas ouviu de Hélio Azevedo que ‘Ademir costumava ajudar Napeloso’. O dono da Léo Fibras, inclusive, foi sondado pelo ex-parlamentar a colaborar na campanha. Essa ajuda sempre veio com o pagamento de churrascos para cerca de cem pessoas. Atualmente, o empresário não mantém mais um vínculo de amizade com Ronaldo Napeloso. A briga, segundo ele, foi pessoal. Os depoimentos continuam na quinta-feira, dia 21. Na quinta-feira passada, o nome de Napeloso foi citado pelos dois depoentes que admitiram a participação na negociação, mas também sem favorecimento. Além de Donizete Simioni (PT), que é o presidente, a CEI é relatada pelo também vereador Aluísio Braz, o Boi (PMDB), e tem como membros Edna Martins (PV), Geicy Sabonete (PSDB) e Dr. Helder (PPS). Durante os depoimentos desta segunda-feira, os parlamentares Juliana Damus (PP) e Rodrigo Buchechinha (SDD) ainda estiveram presentes, mas somente assistindo.
Beneficiados por áreas reclamam e um soube de terreno por acaso
Outros três empresários prestaram depoimento aos vereadores responsáveis pela CEI. Os três reclamaram das condições das áreas como justificativa para o atraso das obras. Um deles, inclusive, nem sabia que tinha sido contemplado com outro espaço. Eduardo Cervone Raimundo, da Pneubor, trabalha com a vulcanização de pneus, e em 2009 com a ajuda do ex-vereador, reuniu-se na Prefeitura e conseguiu a doação de uma área de 741 metros quadrados. Por uma série de problemas de infraestrutura não construiu nada. Só voltou tentar a obra em 2012. Na época, também auxiliado por Napeloso, mas sem dar nada em troca, voltou a buscar informação no Executivo quando foi comunicado sobre retomada da área. “O que me foi dito é que eles fariam uma nova divisão dos espaços”, conta. E em julho deste ano, foi publicado um decreto doando uma nova área ao empresário em um espaço quase ao lado do antigo no Jardim das Gaivotas. À CEI, admitiu desconhecimento até há 40 dias quando foi avisado na diligência da Comissão. Até agora, o empresário não sabe onde é o terreno de 652 metros quadrados, portanto, não tem projeto para construir nada. Ele já pediu informações à Prefeitura. Além disso, o empresário falou para a Polícia Federal sobre a doação de uma área. Lá, foi ouvido e liberado. Quem foi ouvido e reclamou das condições dos terrenos é o empresário Celso Romão, da Abdalla, que comercializa e dá assistência técnica em bombas e aeradores. O processo de doação começou em julho de 2010. Depois, por falta de infraestrutura uma nova área foi solicitada em maio deste ano. Os dois terrenos somam mais de 3,6 mil metros quadrados. Para a CEI, ele alegou ter encontrado dificuldades durante o processo de aquisição.
Até por isso, foi auxiliado por Napeloso e pelo padre Nelson, da Igreja Nossa Senhora Aparecida. “Ele [ex-vereador] nunca me pediu nada, nem voto”, disse o empresário que é amigo de pescaria do ex-parlamentar e pediu ajuda acreditando na sua influência política. Já sobre o padre, o empresário informou ter conhecimento da relação de amizade dele com políticos, talvez, por isso, ele tenha o ajudado a intermediar a doação na Prefeitura. Já José Carlos de Almeida, da Hidrara, empresa do ramo de equipamentos hidráulicos, disse nunca ter tratado com Napeloso sobre a permissão onerosa de uma área de 3,7 mil metros quadrados adquirida em 2009. Ele nunca construiu nada e a demora é justificada pela falta de uma rua no Jardim Guanabara. O empresário afirmou ter tratado diretamente com o ex-secretário Valter Merlos, que, inclusive, o orientou ‘a nunca dar propina caso fosse sondado’. Almeida, no entanto, não soube explicar o motivo do comentário.
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