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Um Plenário da Câmara Municipal cheio acompanhou a homenagem à Helena Francisco da Silva, a Helena da Acácia, que foi agraciada com o 7º Prêmio Heleieth Saffioti – Mulher Destaque, na noite de segunda-feira (26). Instituída no ano de 2011, a honraria é entregue para mulheres que se destacaram profissionalmente ou prestaram relevantes trabalhos na área social, com o objetivo de valorizar a mulher no contexto da cidadania. Um vídeo abriu a solenidade, emocionando a todos os presentes. Em seguida, a coordenadora de Acervos e Patrimônio Histórico, Fabiana Virgílio, recitou uma poesia que fez para a homenageada. A indicação é feita pelo Conselho Municipal dos Direitos das Mulher de Araraquara, após sugestões apresentadas pelos vereadores, entidades, conselhos municipais, organizações e sociedade civil. Para a presidente do Conselho, Mariana Tezini, “é uma honra ter podido escolhê-la para a homenagem desse ano. Ela transforma a vida de muitas mulheres e todo dia luta. Enquanto tivermos que lutar, a palavra da mulher será luta, e Helena sabe o significado disso. Mulheres bonitas são mulheres que estão na luta”. A secretária municipal de Planejamento e Participação Popular, Juliana Agatte, lembrou que “encerramos com chave de ouro esse mês de março. Não teria pessoa melhor para simbolizar essa luta das mulheres. Ela promove e provoca transformações na vida de outras mulheres. Luta é seu nome, sua personalidade e presença em Araraquara”. Autora da indicação da homenagem feita à Helena, em 2012, com o Título de Cidadã Araraquarense, e também idealizadora do projeto que instituiu o Prêmio, a deputada estadual Márcia Lia (PT), afirmou ter muito orgulho do trabalho da líder da Cooperativa Acácia. “Sempre inspira a todos nós; é uma pessoa muito especial”. Segundo o prefeito Edinho Silva (PT), falar da Helena é sempre uma oportunidade muito especial. “Conheci Helena em 1992 em uma roda de samba na minha primeira campanha para vereador. Ela me ajudou muito e o lixão sempre foi uma agenda muito presente no meu mandato. Minha primeira atividade como vereador foi junto com Helena, denunciando a situação dos moradores no lixão. Esse prêmio é emblemático, já que por duas vezes seguidas duas mulheres negras que fizeram trabalhos fundamentais estão sendo homenageadas. No ano passado, foi a Irmã Edith”, destacou. “Seu trabalho é de construção de cidadania de pessoas que nunca foram reconhecidas. Você é símbolo de muitas mulheres, representa pessoas que se organizam para poder viver com dignidade. A Cooperativa Acácia é símbolo da construção da cidadania e do empoderamento de dezenas de mulheres. Toda homenagem que a cidade lhe fizer ainda será pouco”, completou o chefe do Executivo. Presidindo a solenidade, representando o presidente da Casa de Leis, Jéferson Yashuda Farmacêutico (PSDB), o 1º secretário da Mesa Diretora do Legislativo, vereador Edio Lopes (PT), declarou tratar-se de “uma noite de muita honra e alegria por representar a Câmara Municipal. Helena merece esse reconhecimento da sua luta e do seu trabalho. Ela é exemplo de mulher guerreira, que nunca desiste de seus ideais. A importância do trabalho desenvolvido por ela é muito grande, na formação da consciência da população quanto à necessidade da separação do lixo doméstico, na redução da produção do lixo, no resgate de pessoas e famílias em situação de vulnerabilidade, na geração de emprego e renda com a separação e reciclagem do lixo. Enquanto o mundo ideal está em fase de construção, Helena nos ensina como devemos nos dedicar à desconstrução dos erros e das injustiças da sociedade, do ser humano que a compõe, procurando implantar serviços e políticas públicas com atenção voltada as mulheres, ao idoso, à criança, ao negro, às vítimas das injustiças, das desigualdades, da discriminação, dos erros de nossa sociedade”. A leitura do ato, concedendo o Prêmio à Helena, foi feita pela vereadora Thainara Faria (PT), que não perdeu a chance de proferir algumas palavras. “Helena mudou a vida de todo mundo aqui de Araraquara, não só das mulheres às quais ela deu autonomia para dizer não à violência e muitas vezes sair de seus lares porque tinham o seu próprio sustento a partir da cooperativa, mas também em todas as casas, porque agora tem uma educação que vocês levam a todos, que é saber o que é da coleta e não pode ser misturado no lixo. A presença das mulheres nas ruas com os bags, gritando e pedindo coleta, que ensinou isso. O papel que ela desenvolve na cidade é inegável e maravilhoso, tanto na educação de cada um pelo meio ambiente como nas mulheres que transformou as vidas. Obrigada por tudo o que significa para nós”. Visivelmente emocionada, Helena agradeceu a todos. “Foi através de muita luta que chegamos aqui. Esse Prêmio não é só para a Helena da Acácia de Araraquara, mas para todas as catadoras do país, que estão todos os dias na luta. A cooperativa também tem que se reciclar sempre. Chegamos a um patamar, mas passamos por muitas turbulências, como o roubo de bags, e diariamente são 80 mulheres nas ruas sofrendo agressões. Vamos passar por essa fase, esses homens vão aprender a nos respeitar, é só isso que pedimos, respeito, pois somos trabalhadoras. Vocês não têm ideia da dimensão desse reconhecimento aqui nesta noite.” As homenagens não acabaram tão cedo: Helena ainda recebeu flores que foram entregues pelo vereador Paulo Landim (PT). Além de filhos, netos, irmãos e amigos da homenageada, também estiveram presentes a coordenadora executiva de Políticas Públicas para Mulheres do município, Amanda Vizoná, o coordenador de Trabalho e Economia Criativa e Solidária da Secretaria do Trabalho e do Desenvolvimento Econômico, Reynaldo Sorbille, e o coordenador de Políticas Públicas de Promoção da Igualdade Racial.
Helena da Acácia
Natural de Ibaté, Helena Francisco da Silva, teve uma infância pobre. Nasceu em uma usina de cana-de-açúcar, onde o pai trabalhava. Aos oito anos, teve 80% do corpo queimado, após um acidente doméstico ao acender um fogão a lenha. A sua primeira luta foi uma das mais difíceis que se pode ter: lutar para sobreviver ao acidente, pois a previsão médica não dava esperanças de sobrevivência para ela. Ficou um ano internada na Santa Casa, passou por cirurgias e venceu. Depois do acidente, a família saiu da usina e se mudou para a área urbana para cuidar da pequena Helena. As marcas deixadas pelo acidente ainda a fizeram sofrer bullying na escola. Mãe de cinco filhos (Taís, Tatiane, Rafael, Felipe e Almir) e avó de 12 netos, a cidadã araraquarense chegou a tirar o sustento da família do lixão até 2002. Foi quando fundou a Acácia, que hoje trabalha com cooperados, a grande maioria mulheres, arrimos de família, que sustentam seus filhos pequenos.
Mais sobre o Prêmio
Desde a sua criação, já foram homenageadas as seguintes mulheres:
2012 – Professora doutora, secretária municipal de Saúde e militante em prol dos portadores de HIV, Clara Pechmann Mendonça (falecida no ano passado, aos 92 anos)
2013 – Professora doutora Leiko Wakimoto Hanai
2014 – Maria Lúcia de Oliveira Gil
2015 – Silvia Paula Vendramin Brunetti
2016 – Maria Helena Rolfsen Moda Francisco Barbieri
2017 – Maria da Conceição Costa, a Irmã Edith (falecida no início deste mês em homenagem à mulher, exatamente três dias antes do Dia da Mulher)
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